segunda-feira, 15 de março de 2010

Com PITIÚ e tudo mais!

Você, leitor, sabe porque todo cametaense é inteligente? Porque come cabeça de mapará, dizia o escritor conterrâneo Victor Tamer, para descrever o quanto que nós, cametaenses somos papa-mapará.

O Mapará foi o peixe existente em maior abundância na região e assim se transformou em um símbolo econômico cultural e alimentar para a população.

O fato de carregar este estigma de cametaense quase que a vida toda e um tanto engraçado, pois sempre que alguém fora da cidade descobre sua origem, sempre vem seguido da frase: “Tu também é um papamapará?”. E de fato, me orgulho disso.

Infelizmente com a construção da Usina Hidroelétrica de Tucuruí, técnicas de pesca mais eficientes, a pesca predatória, etc... Tem gerado um declínio considerável na sua população, faltando para aqueles que mais necessitam, os pescadores.

Minha avó, Dona Sarah, diz que a há 30 anos, o pescado era muito barato, sendo que a venda era feita por “paneiro” e não por Kg do jeito que é comercializado hoje.

*Paneiro: Suporte feito de cipó usando para transportar quaisquer produto que não seja liquido.

Pra você ter uma idéia, um paneiro custava em torno de 10 pilas com aproximadamente 15 kg de mapará. Hoje em dia, 10 pilas “malamá” dá para 8 mapará.

*Malamá: Mal dá para.

Na verdade e infelizmente o progresso, que não foi aceito pela população, tem seus pós e contras.

Bom, achei um vídeo interessante sobre a pesca do mapará. Não consegui postar aqui, mas vou deixar o link:

- Abertura da pesca do mapará : http://www.youtube.com/watch?v=ypvf3KN01n4&feature=related

Bom nesse vídeo, que eu particularmente acho muito engraçado, vocês terão um pouco de dificuldade em entender o que o "Taleiro" fala. Ele tem muito sotaque muito puxado. Mas eu vou explicar:

O Taleiro e o mais experiente pescador e é o responsável por encontrar o mapará. Ele usa um tipo de "tala", uma vara com uma linha e fica batendo onde ele vê movimentação de boto ou de aves. No vídeo ele diz que consegue perceber se o mapará e do "graúdo" o mapará GRANDE e se é do "miúdo" que é o pequeno, mais conhecido como fifiti, apenas com essa vara, ou melhor, "tala". Depois ele explica a grande diminuição do mapará, e diz: que antes ele pescava mais de 5 "cambôa" de uma vez! E hoje se conseguir, apenas 1.

*Cambôas e o nome dado a cada bloqueio feito.

Bom na próxima pergunta, ele responde sobre a diminuição do pescado e diz: "Primeira coisa, que nós estragou a situação, que eu votei nela sem conhecimento, foi a barragem de Tucuruí, e a segunda coisa, e que quando comecei a pescar aqui nessa ilha só tinha 23 casas, hoje só “de fronte” de casa tem mais de 23!"(risos). De acordo com que ele disse, significa o grande aumento das famílias e a pesca predatória sendo feita.

*De fronte: quer dizer "na frente".

Depois da entrevista começa a barreira. E como o mapará e pescado.

Uma das coisas mais lindas desse vídeo, e ver a felicidade no rosto desses pais de família por ter conseguido o seu ganha pão.

Barreira feita pelos pescadores



Olha só o lanzudo Paulo isidório

Algumas curiosidades sobre a pesca:

Os Botos são predadores, mas também são grandes aliados dos pescadores, pois, onde tem boto normalmente tem peixe. No caso do mapará, eles atacam os peixes em direção aos borqueios.

O "serviço" dos botos tem que ser "pagos" com uma cota de mapará para sua alimentação.

Borqueio ou cambôa é o nome dado a uma das pescas tradicionais do mapará, com grandes redes, onde figuram os camboeiros, o taleiro e os guaxinis .

Os camboeiros são os pescadores que organizam e executam a cambôa ou borqueio.

O Taleiro é um profissional da região, de grande experiência, que com auxílio de uma tala fina de madeira mergulhada no rio, avalia a existência, quantidade e direção que o mapará avança no rio.

É o taleiro que orienta e dá as ordens aos camboeiros para iniciar um borqueio.

Os guaxinis são pessoas normalmente moradoras das proximidades, "voluntárias", que adentram no rio, fazem mopongas, barulho na água com as mãos, com a finalidade de manter acuado o cardume de mapará dentro do borqueio antes que o mesmo seja fechado.

Os guaxinis, após o fechamento dos borqueios, também auxliliam a cambôa, colocando suas canoas em volta das redes e segurando a bóia das mesmas para não afundar.

A exemplo dos botos os serviços dos guaxinis são recompensados com uma cota de mapará.

Bom agora que você já conheceu um pouco sobre a pesca e sobre o mapará, já pode degustar dessa iguaria deliciosa! Tanto um mapará fifiti, quanto um mapará Paulo isidório lanzudo! E é claro com o velho pretinho AÇAÍ.

*Mapará fifiti: Um mapará menor.

*Mapará Paulo Isidório: Um mapará maior de cor mais escura.

*Lanzudo: Grande.

Como os antigos dizem...Peixe é peixe...Mas MAPARÁ É MAPARÁ!

É isso! Inté sumano!




2 comentários:

  1. Parabens pelo crescimento do blog, e pelo leiáute.

    O vídeo ficou bem legal, como ilustração do texto - ehueheuhe ainda bem que você explicou.

    Orgulhosa de você! =D

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  2. Nossa, mesmo com a diminuição que o pecador alegou ainda tem muita fatura, imagino como era antes da barragem! Muito lindo.

    Adorei o vídeo, eu assisti na esperança de entender algo mas realmente, sem sua legenda, ia ficar difícil. Mas também é porque a música do vídeo é tão legal, que a gente fica ouvindo e vendo as imagens sem ficar atenta.

    Bjo

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